Era sempre muito frio em todas as épocas do ano.
O cabelo esvoaçava com a brisa amiga, entrando de mansinho pela fresta aberta; tinha cheiro de chuva, e assim ele imaginava que esta não tardaria a cair. O céu estava nublado de uma maneira tão tenebrosa que chegava a lhe dar uma impressão ruim. Mas nada, nada, iria arruinar aquele dia tão lindo. Sorriu ao pensar nisso.
Ela estava deitada ali, em sua cama, no lugar onde deveria estar sempre, no lugar que ambos deveriam estar para sempre, um nos braços do outro.
Incomodado com sua nudez, jogou o cigarro que a muito se queimara no cinzeiro e levantou, caminhando em direção ao banheiro e carregando sua caneca de café pela metade. Engoliu tudo aquilo logo ao chegar e fez uma careta, deixando-a sobre a pia. Deu uma longa olhada no espelho e sorriu outra vez. Sua barba estava feita como de costume e seus olhos estavam mais claros do que de costume, mais para ambar do que para mel. Talvez fosse o brilho que o invadira, a felicidade, o brilho do olhar. Tomou uma banho muito frio (para acordar?) e saiu pela casa escondido por baixo de uma toalha velha, arrumou a cozinha (muitas coisas da mesa, do balcão, da pia no chão) rapidamente, e preparou algo rápido e pimposo para servir a ela. Sem querer exagerar muito na dose, levou torradas com geléia de amoras frescas e marshmallow tostado por cima, uma caneca de cappucino com chocolate em pequenos pedaços no fundo. Perfeição. Até o Fim.