quinta-feira, 30 de setembro de 2010

concealed by disbelief

Mordendo a boca com um cigarro pendendo de canto. Assim ele encarava a paisagem verde e imobilizante do lado de fora da janela. Era sempre muito frio aquela época do ano.
Era sempre muito frio em todas as épocas do ano.
O cabelo esvoaçava com a brisa amiga, entrando de mansinho pela fresta aberta; tinha cheiro de chuva, e assim ele imaginava que esta não tardaria a cair. O céu estava nublado de uma maneira tão tenebrosa que chegava a lhe dar uma impressão ruim. Mas nada, nada, iria arruinar aquele dia tão lindo. Sorriu ao pensar nisso.
Ela estava deitada ali, em sua cama, no lugar onde deveria estar sempre, no lugar que ambos deveriam estar para sempre, um nos braços do outro.
Incomodado com sua nudez, jogou o cigarro que a muito se queimara no cinzeiro e levantou, caminhando em direção ao banheiro e carregando sua caneca de café pela metade. Engoliu tudo aquilo logo ao chegar e fez uma careta, deixando-a sobre a pia. Deu uma longa olhada no espelho e sorriu outra vez. Sua barba estava feita como de costume e seus olhos estavam mais claros do que de costume, mais para ambar do que para mel. Talvez fosse o brilho que o invadira, a felicidade, o brilho do olhar. Tomou uma banho muito frio (para acordar?) e saiu pela casa escondido por baixo de uma toalha velha, arrumou a cozinha (muitas coisas da mesa, do balcão, da pia no chão) rapidamente, e preparou algo rápido e pimposo para servir a ela. Sem querer exagerar muito na dose, levou torradas com geléia de amoras frescas e marshmallow tostado por cima, uma caneca de cappucino com chocolate em pequenos pedaços no fundo. Perfeição. Até o Fim.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

a plea for mercy

6h15am. Os seus cabelos refletiam a luz do sol que entrava pela fresta que o vento levantava da cortina.
6h20. Ela estava ali. Para sempre.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

everything is nothing

Eram 5:50am. Ele acendeu (mais) um cigarro e tomou um gole de seu café sem açúcar. Amargo. Não havia mais açúcar em sua vida.
Eram 5:50am, mas ele não fazia idéia de que eram dez pra seis da manhã. As janelas estavam trancadas (pregadas com tábuas), o cd tocava lá pela vigésima vez, então havia perdido sua noção do tempo. Não fazia idéia da hora, do dia, de o que estava acontecendo mas sabia que estava chovendo. Uma chuva boa de se ouvir, que trazia um cheiro gostoso pelas frestas das portas, das janelas, pelas paredes, pelo telhado e por algum outro lugar. Não era uma chuva errada, ela estava ali se moldando perfeitamente ao seu momento, se fosse um sol quente, ou um tempo nublado, naõ seria a mesma coisa, talvez nem tudo estivesse trancado. Talvez, se a casa estivesse morna, ele faria um suco, compraria um refrigerante, teria superado tudo aquilo, jogaria todo o maço de cigarros fora, mas não. Estava chovendo.
Ele sabia que tinha fome pois sua barriga doía, mas não ia se render a tentação de passar por aquela porta, ele não queria ser igual a ela. E se ele passasse? Será que não voltaria mais (também)? Não sabia a resposta, mas já não o interessava.
A sua vida era ótima daquele jeito. O mundo lá fora pode não ser tão bom quanto ele imagina. Ele não arriscaria.
Sorriu para o teto com infiltração e fechou os olhos. Respirou fundo, deixou o ar úmido entrar em seus pulmões e então o soltou. Tragou o cigarro e caiu em torpor eterno.